Desde setembro dois abatedouros e uma indústria de embutidos de Arroio do Meio estão com atividades suspensas por determinação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento no Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal (SISBI-POA). O Ministério Público do município investiga o caso sob sigilo. Arroio do Meio era o único município do Vale do Taquari e um dos 13 do Rio Grande do Sul a conquistar a equivalência estadual e federal. Com isso, as indústrias podem ampliar a comercialização a nível de Estado e país. No entanto essas certificações foram adquiridas por meio do trabalho das únicas duas médicas veterinárias concursadas do município, Bruna Cassia Scheuermann e Morgana Rodrigues, que atuam desde 2018. Elas esclarecem que, após as conquistas das equivalências, algumas industrias passaram a questionar as exigências.

 

Por conta da pressão, as veterinárias adoeceram e estão afastada há mais de 90 dias. E, mesmo tendo adoecido em razão do exercício profissional, agora são acusadas de terem colaborado para que Arroio do Meio tenha perdido os selos estadual e federal. O defensor das servidores, advogado Adriano Puerari, revela que elas sofreram ameaças e o afastamento se deu pelo desgaste emocional. “Ambas vinham sendo pressionadas e inclusive ameaçadas de morte e tudo isso levou ao esgotamento. Em nenhum momento houve preocupação por parte do Executivo com a saúde mental das servidoras, ao contrário, ambas passaram a responder por sindicâncias administrativas”, declara. O advogado também lembra da conquista das certificações através do trabalho das veterinárias. “Elas não tratam a saúde pública como moeda de troca, a segurança alimentar para elas é uma prioridade indispensável no exercício de suas atribuições, mas isso não agrada a todos”, complementa.

 

Bruna informou que as perseguições iniciaram em junho do ano passado. “Vínhamos enfrentando ameaças, uma situação dentro do serviço público, onde o abuso de autoridade era frequente e tivemos vários problemas de saúde e emocional e não tínhamos mais condições de continuar trabalhando”, afirma. Já Morgana revela que ao ingressar na função, encontrou um serviço de fiscalização precário, sendo necessária a reestruturação da equipe, da legislação, estrutura física e toda revisão documental. O Sindicato dos Médicos Veterinários do Rio Grande do Sul (SIMVET/RS) repudia a situação, anunciando que adotará as medidas cabíveis na defesa das profissionais. "Vamos agir para que, com base nas decisões equivocadas da administração municipal de Arroio do Meio, outras prefeituras possam vir a adotar medidas semelhantes", salientou o presidente do SIMVET/RS, João Jr. 

 

Segundo ele, a entidade está vigilante para evitar que atentados sejam praticados contra os veterinários no exercício profissional em solo gaúcho. "É inadmissível que tenham sido ameaçadas de morte porque se negaram a praticar ilícitos pleiteados pelos donos das indústrias", enfatizou João Jr. ainda ressaltou que a produção de alimentos "é coisa séria" e que qualquer deslize pode resultar em crime contra a saúde pública. "As veterinárias agiram adequadamente, dentro das regras, e por serem justas, estão sendo tratadas como criminosas. Enquanto minha diretoria estiver no comando do SIMVET/RS isso não vai se repetir". "Os agentes só sofrem a coação quando o Executivo permite. É necessário que os líderes entendam e respeitem o trabalho dos médicos veterinários, pois estão ali não para defender um eleitor e sim os interesses da sociedade".

 

O presidente da entidade finaliza dizendo: "enquanto minha diretoria estiver no comando do SIMVET/RS vamos lutar para isso não se repetir".